Temos no serviço uma Sra. que no decorrer de uma paragem respiratória no mês de Dezembro de 2006 (altura em que foi internada no SMI - Serviço de Medicina Intensiva do HSM), foi ventilada, tendo-lhe posteriormente sido colocada uma Traqueotomia. Desde Janeiro que fazem tentativa de desmame da Traqueotomia mas sem sucesso. Tem-se mantido sempre internada, e com infecções respiratórias frequentes.
Há cerca de 1 mês quando foi transferida para o meu serviço, numa tarde em que cuidava dele, entrou em FA com RVR (Fibrilhação Auricular com Resposta Ventricular Rápida). Como o serviço não tinha sequer um monitor para vigiar a doente, esta foi transferida novamente para a Medicina de origem.
Regressou há duas semanas com uma infecção respiratória por Acinetobacter multiresistente, para um quarto "isolado" (aquele isolamento que nós sabemos!).
Na quinta-feira passada, estava eu a fazer Tarde/Noite. O Chefe deixou amêndoas.
Esta Sra. é uma doente muito debilitada fisicamente que, curiosamente, não se encontra a realizar qualquer tipo de Fisioterapia. Necessita de ajuda total em todas as AVD's (Actividades de Vida Diária). Alimenta-se muito mal. Normalmente só come a sopa e, na maioria das vezes, não a come toda. Auxiliei-a durante o jantar, dando-lhe à boca a sopa. No fim, perguntei-lhe se gostava de doces. Ela lá me disse com dificuldade, como sempre sucede quando tenta comunicar uma vez que a Cânula é não fenestrada e portanto temos que ler os lábios dela. Disse-me que sim, que gostava de doces. Perguntei-lhe se a última vez que tinha sentido o sabor de um doce tinha sido no Natal, já que esse tinha sido o último dia que tinha passado com a família. Respondeu-me que sim. Lembrei-me das amêndoas do Chefe. Perguntei-lhe se gostava. Sim. Fui buscar. Deixei-a saborear a amêndoa. Fiquei perto dela no caso de se engasgar. Correu tudo bem e no fim li nos seus lábios: MUITO OBRIGADA!
Os tempos da enfermagem são maus. Os tempos de profissional no HSM são maus. Mas enquanto houver pessoas para cuidar, vale sempre a pena mais um turno.